domingo, 21 de dezembro de 2008

A CRISE MUNDIAL


Vivíamos tranquilamente, na convicção tácita de que, apesar das mudanças sociais, muitas vezes penosas, o tempo da história nos assegurava a continuidade no progresso. Apesar das "incertezas" e da ameaça do "caos imparável" que caracterizava a contemporaneidade, acreditávamos, no fundo, num tempo mais forte, subterrâneo, capaz de nos garantir a segurança necessária à permanência da vida normal: no trabalho, na família, no lazer.

Os sinais inquietantes - que significavam realidades dramáticas para muitos - como o desemprego, a precariedade laboral ou a perda brusca da qualidade de vida constituíam excepções, não afectando a colectividade em geral (segundo o discurso dominante). De qualquer maneira, eram fenómenos que pareciam resultar de políticas deliberadas, dependendo da vontade do homem. Os males que daí resultavam podiam ser corrigidos, eram transitórios, como sacríficios indispensáveis a um futuro melhor. Inseguros à superfície, vivíamos com uma esperança sólida de fundo.

De repente, a crise mundial aconteceu como um sismo. Nada a anunciava, surgiu como um atentado terrorista contra a humanidade. Bruscamente, quebrou-se a relação de confiança que se estabelecera entre o cidadão e o tempo histórico. A sociedade e a história aparecem agora com uma transcendência assustadora, fazendo-nos perder a crença que tínhamos que as nossas acções intervinham - mesmo numa escala microscópica, mas suficiente para alimentar uma crença subliminarmente macroscópica - no curso do tempo.(...)

(José Gil in Visão)

Nenhum comentário: