sexta-feira, 28 de setembro de 2012

CURSOS DE ENSINO VOCACIONAL


O Governo vai abrir cursos de ensino vocacional em 12 escolas básicas públicas e privadas para alunos com mais de 13 anos "que manifestem constrangimentos com os estudos do ensino regular", segundo uma portaria publicada em Diário da República.


De acordo com a Portaria n.º 292-A/2012, publicada na quarta-feira, a "experiência-piloto" agora lançada em 12 escolas, que o diploma não especifica, vai integrar alunos com idade superior aos 13 anos que "tenham duas retenções no mesmo ciclo ou três retenções em ciclos distintos", permitindo-lhes completar os 6.º e 9.º anos de escolaridade.
Para integrar as turmas destes cursos vocacionais no ensino básico, os alunos terão previamente de ser avaliados pelos psicólogos escolares, avaliação após a qual o encarregado de educação deverá "declarar por escrito se aceita ou não a frequência do curso vocacional".
De acordo com o diploma assinado pelo ministro da Educação e Ciência, Nuno Crato, a estrutura curricular será organizada por módulos que incluem as disciplinas de Português, Matemática, Inglês e Educação Física, na componente geral, e História e Geografia e Ciências Naturais, na componente complementar.
A componente vocacional do currículo, por seu lado, é "integrada pelos conhecimentos correspondentes a atividades vocacionais e por uma prática simulada preferencialmente em empresas que desenvolvam as atividades vocacionais ministradas".
Os alunos dos cursos vocacionais do 6.º ano podem prosseguir os estudos no ensino regular ou vocacional, desde que tenham aproveitamento nos exames finais nacionais, e os do 9.º podem ainda prosseguir os estudos pela via vocacional de nível secundário, além das vias regular e profissional, mediante as mesmas condições.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

XI CONGRESSO DOS CFAE



quinta-feira, 13 de setembro de 2012

QUESTÕES CHAVE DA EDUCAÇÃO



No seguimento das conferências anteriores, a Fundação Francisco Manuel dos Santos volta a discutir temas essenciais para o futuro da escola e da educação no nosso país. 
Partindo da participação de especialistas, convoca professores, pais e outros interessados a entrar neste debate. 

Quer a sua participação, precisa do seu contributo.



segunda-feira, 3 de setembro de 2012

SECUNDÁRIO SUPERIOR




No passado mês de Junho uma escola secundária com 3.º ciclo apresentou um projecto que intitulou “Secundário Superior”. Tal projecto, que começa a funcionar já no próximo ano lectivo, parte do princípio que a escola, cada escola, deve empenhar-se no desenvolvimento cognitivo de todos os seus alunos, incluindo aqueles que demonstram rendimento académico satisfatório.

Atentos que temos estado - investigadores, sistemas de ensino e sociedade em geral - aos alunos com mais dificuldades de aprendizagem, motivacionais e/ou sociais para que eles cheguem a patamares mínimos, fomos negligenciando aqueles que se envolvem em certas matérias e as aprendem com maior rapidez e facilidade.

Afastando determinismos relacionados com capacidades (ou incapacidades) inerentes aos próprios alunos, só deles dependentes e incapazes de se alterarem; considerando, pelo contrário, que o ensino é fundamental para todos chegarem mais longe, o projecto em questão procura operacionalizar de modo amplo a noção de «escola inclusiva». Pelo interesse da iniciativa, achámos pertinente falar com Henrique Coelho, director da Escola Secundária Adolfo Portela (ESAP).


PO projecto «Secundário Superior» surgiu e tomou forma quando e como?

R: O projeto foi surgindo, mas só no final do passado ano letivo nasceu verdadeiramente, depois de reunir com alguns professores que me ajudaram a explicitar e formalizar aquilo que se vinha desenhando. Se, numa primeira fase, a escola se preocupou essencialmente com a eficiência e eficácia, trabalhando no sentido de garantir a aquisição e desenvolvimento de competências fundamentais por todos os alunos, com o seu sucesso escolar e educativo, era agora altura de se afirmar como verdadeiramente inclusiva, isto é, preocupar-se também com um ensino de qualidade e mesmo de excelência (a realização de Cursos Avançados, na ESAP, no ano letivo anterior, ao abrigo do protocolo estabelecido com o Instituto de Educação e Cidadania, dirigido pelo Doutor Arsélio Pato Carvalho mostrava-nos que isto era possível). Na verdade, há muito que nos preocupava a possibilidade de os melhores alunos – os mais ambiciosos, aqueles que manifestavam vontade e potencialidades para a excelência – serem, de alguma forma, esquecidos, preteridos em função daqueles que revelavam mais e maiores dificuldades. Impunha-se, pois, compatibilizar a equidade com a excelência, trabalhando para o sucesso de qualidade e não apenas para o combate ao insucesso.

A batalha contra o insucesso estava ganha e consolidada pela ESAP – as elevadas taxas de aproveitamento e as taxas residuais de abandono escolar dos últimos anos revelam-no. Tal terá resultado, também, da reflexão crítica e consequente aperfeiçoamento de algumas práticas pedagógicas, nomeadamente no âmbito do Projeto TurmaMais, a que a escola se candidatou e em torno do qual se foram desenvolvendo sinergias que têm conduzido, inequivocamente, a um ensino básico de (maior) qualidade. O percurso efetuado pela ESAP e (re)conhecido pela comunidade educativa tornava evidente a possibilidade (e, nessa medida, a necessidade) de um segundo passo: a aposta na qualidade superior e mesmo na excelência, na maximização das potencialidades cognitivas dos nossos alunos. Foi desta ambição que surgiu o atual Secundário Superior e o desafio era concretizar um ensino secundário que fosse para além dos cânones estabelecidos. Já não pedia apenas que «cumpríssemos» a nossa função enquanto profissionais da educação – propunha que o fizéssemos subordinando todo o trabalho de planificação, execução e avaliação a critérios de excelência.

Propunha que não nos conformássemos com as batalhas ganhas, mas partíssemos delas para propor outras, mais exigentes e mais difíceis, mas também mais motivadoras; que ousássemos ser ambiciosos, recusando a mediania, a mediocridade, o relativismo, o paternalismo e o conforto permitido pelo status quo. Propunha que respondêssemos à atual conjuntura de crise «arregaçando as mangas» em vez de «cruzar os braços», sendo pró-ativos e não apenas reativos, sendo ambiciosos exigentes e não satisfeitos conformados. Propunha que nos distinguíssemos pelo serviço educativo prestado, continuando a afirmar a escola como instituição de referência. (Não deixa de ser motivador que, num contexto de diminuição generalizada de alunos, a ESAP, a única escola não intervencionada de Águeda, conte já para o próximo ano letivo com mais 50 alunos relativamente ao ano passado.)Foram estas ideias que apresentei numa reunião com as coordenadoras de três departamentos curriculares, incumbindo-as de pensarem nelas, as amadurecerem e apresentarem propostas para a sua concretização.

Foi isso que aconteceu, oito dias depois, com a apresentação de um esboço do atual projeto, realizado graças ao contributo de outros professores cujas práticas revelavam já esta linha de pensamento e esta ambição. Depois de apresentado e discutido esse esboço, o projeto ganhou finalmente forma e pode ser publicamente apresentado no dia 13 de junho sob o nome, que cremos ser elucidativo, de Secundário Superior.

P: Sabemos que o projecto é destinado a alunos com desempenho académico acima da média, mas aqui duas perguntas se impõem: Como são seleccionados esses alunos? E alunos com desempenho académico abaixo da média são incentivados a melhorar de modo a poderem ser seleccionados?

R: Se me permite, começo pela segunda questão. Gostaria de vincar sem qualquer margem para dúvidas que, na ESAP, queremos que todos os alunos sejam cada vez mais melhores alunos. Queremos que todos os alunos da ESAP e os seus encarregados de educação saibam que o «fator ESAP» foi/é decisivo no seu percurso escolar, pessoal e social. Deste ponto de vista, na ESAP ninguém é excluído.

Todos são incluídos. Todos são incentivados a melhorar os seus desempenhos porque todos têm potencial. Ainda que o Secundário Superior seja elitista no sentido em que se dirige aos alunos com os melhores resultados, é intrinsecamente democrático porque está aberto a todos os alunos que estão na escola para aprender, para maximizar o seu potencial, no fundo, que estão na escola para que a escola os desafie a ir mais além.Quanto à questão da selecção, decidimos não complicar. Em primeiro lugar, não há alunos seleccionáveis. Há, isso sim, um universo de alunos visados pelo Secundário Superior e o limite mínimo desse universo é possuir uma média equivalente ou superior a catorze valores porque, como há muito se convencionou, é aí que começa o bom. Em segundo lugar, não basta ter uma média equivalente ou superior a catorze. É absolutamente necessário que os alunos e os encarregados de educação conheçam o Secundário Superior, conheçam os seus objetivos e as suas atividades.

Ora, é esse trabalho que estamos a fazer neste momento. Depois de identificar o universo dos alunos bons e as suas áreas de estudos, seguir-se-á o contacto formal para que eles e as suas famílias saibam de facto o que a ESAP tem para lhes oferecer. Finalmente, haverá um trabalho hercúleo a desenvolver com vista a motivar os alunos para a participação nas atividades do Secundário Superior. Como se sabe, estes alunos são muito exigentes e zelosos do seu tempo, por isso, temos de lhes mostrar de forma inequívoca que o Secundário Superior constitui uma mais-valia para o seu processo de formação.No fundo, o que gostaria de reafirmar é que o Secundário Superior está aberto a todos os alunos porque, mais do que um projeto, é a materialização de um valor estruturante da nossa escola.

P: Um projecto destes não pode ter viabilidade sem o envolvimento dos professores. Que professores foram agregados ou que professores fizeram questão de se agregar?

R: O projeto Secundário Superior traduz o rumo definido para a ESAP, revelando a assumpção de uma verdadeira política educativa para e da escola. Evidentemente que a efetivação de tal rumo exige a mobilização de todos os professores, orientando a sua competência, profissionalismo e criatividade para uma nova e mais ambiciosa forma de estar na e construir a escola. É também evidente que tal mobilização e motivação exigem, antes de mais, um conhecimento profundo do projeto – da sua oportunidade e relevância, dos seus pressupostos e finalidades, bem como de formas possíveis de o concretizar.

Na realidade, algumas das atividades integradas no atual Secundário Superior já se realizaram no passado ano letivo, embora de forma não articulada nem integrada. Servem, contudo, de exemplo de práticas que podem ser integradas no projeto na medida em que são consequentes com os seus pressupostos e permitem a consecução das finalidades definidas. Esta foi uma das preocupações da equipa que elaborou o projeto para apresentação pública: fornecer exemplos de atividades que permitiriam a concretização do pretendido, lembrando que embora ambicioso o que se propunha não era irrealizável ou apenas utópico – algumas dessas atividades já tinham sido realizadas e com êxito.Para além da apresentação pública em que estiveram presentes todos os professores da ESAP e a quem foi fornecida documentação essencial, foram posteriormente realizadas várias reuniões com os grupos/áreas disciplinares que constituem os vários departamentos curriculares.

Com tais reuniões pretendia-se não só prestar os esclarecimentos necessários, mas também motivar os professores, mobilizá-los para a concretização do projeto, solicitando a apresentação de novas atividades. Todos os grupos/áreas disciplinares apresentaram propostas consequentes com o projeto que está agora francamente enriquecido, podendo a ESAP oferecer, a partir de setembro, um conjunto de atividades de aprofundamento de conhecimentos e de treino de competências de todas as áreas do saber, bem como um conjunto de atividades co-curriculares que contribuirão para a melhoria dos processos cognitivos dos alunos.

Ora, a quantidade e qualidade de tais propostas parece indicar, senão a mobilização de todos os professores, pelo menos a sua disponibilidade e vontade de aderir a um projeto tão ambicioso como este.Houve, contudo, alguns professores que, desde a primeira hora, manifestaram uma firme vontade de concretizar este projeto, dedicando-lhe muitas horas de trabalho mas sobretudo muita da sua energia criadora. Creio que estes professores serão capazes, pelo exemplo, de motivar outros, «contaminando-os» com essa vontade de fazer mais e melhor, funcionando como pólos dinamizadores de sinergias que já existem e que, estou certo, se aprofundarão.

P: Na apresentação do vosso projecto declararam pretender «uma escola de excelência», «uma escola feliz». No imaginário colectivo, talvez se tenha delineado uma contradição: uma escola que trabalha para a excelência, que aposta no rigor e no esforço, na dificuldade não pode preocupar-se com a felicidade...

R: Sim, até pode ser, mas, na realidade, se pensarmos bem, não há qualquer contradição porque só pode haver felicidade se houver esforço. Acho até que basta olhar à nossa volta para perceber que vivemos tempos difíceis porque temos optado sempre ou quase sempre pela via mais fácil. E a via mais fácil não conduz à felicidade, só à ilusão de felicidade. A felicidade, a verdadeira felicidade dá trabalho, exige coragem, esforço e sacrifício. E a escola portuguesa, a sociedade portuguesa, têm de recuperar esta ideia para combater a crença errada de que há atalhos. Tem de mostrar que a vida não nos acontece, mas decorre das nossas escolhas. Ora, o Secundário Superior pretende trazer para a luz do dia um conjunto de heróis (os bons alunos) que cedo entendeu que a felicidade não é instantânea, não é algo que nos acontece. Que entendeu que felicidade não é um meio, mas um fim. E que o trabalho, a abnegação, a escolha do caminho aparentemente mais longo são, na realidade, as únicas vias para a realização pessoal. Num certo sentido, o que quero dizer é que mais felizes são aqueles que há muito descobriram a técnica da felicidade, quer dizer, a receita ideal para a procura da felicidade – a sabedoria. Mas que significado tem esta receita? Que felicidade nos garante o esforço e o sacrifício? Garante-nos que nunca teremos tudo o que precisamos, que o caminho para a felicidade não é simples nem dourado e que o essencial não é desejar ser feliz, mas poder ser feliz. Claro que este poder exige preparação, exige que disponhamos das ferramentas e dos meios necessários para conceber e executar um plano racional de vida. Exige que se construa o direito a ser feliz, o qual, por sua vez, implica o dever de procurar ser feliz para além de lógicas individualistas e consumistas. A escola deve, por isso, ser o lugar do elogio do trabalho e todos os que a constroem devem ser arquitectos deste princípio fundamental. Porque só o conhecimento traz liberdade, só a liberdade traz realização e só a realização traz felicidade.

Helena Damião
Consultora do CFIAP
(entrevista publicada no blog De Rerum Natura)