Entro num certo departamento duma certa instituição de ensino e não posso deixar de reparar no único cartaz que está afixado. A cor é suave, o grafismo apelativo. Vejo que se trata duma lista... Com alguma curiosidade, aproximo-me e confirmo: é uma lista composta por uma espécie de princípios, tópicos, aspectos. São muitos, mas não consigo passar do primeiro. Leio-o, relei-o e volto a relê-lo.
Quando aquilo que observamos é de tal modo alheio aos nossos esquemas mentais, temos dificuldade em perceber o seu sentido, o seu alcance...
“Aderir de corpo e alma ao novo paradigma da organização…”, eis a frase que me deixa, por largos momentos, nesse estado!
Aderir ao “novo paradigma”!? Paradigma é uma palavra sofisticada, imprime sempre um tom erudito a qualquer texto, a qualquer conversa, não menospreza o leitor ao qual se destina, eleva-o a um patamar de sofistição linguística, e o leitor sente que "está em casa".
Mas, "voltando à terra", qual é esse paradigma? Onde está explanado? Eu deveria conhecê-lo!?
E, se não o conheço, devo aderir a ele? De corpo e alma!?
Seja qual for o paradigma, posso aderir a ele (talvez) de corpo. Mas de alma!? Aí, vamos mais devagar, calma… A alma (seja lá isso o que for) é minha e só minha, não ma peçam, por favor, que o não podem fazer.
Eu até a posso dar, empenhar, vender, destroçar, mas isso é comigo e só comigo. Não posso admitir de maneira alguma que me digam, que me imponham que a dê, que a empenhe, que a venda, que a destroce. No caso, que adira…
Quem escreveu isto (alguém escreveu isto!), mesmo que seja agnóstico ou ateu, terá lido a Nau Catrineta?
Nota: Não importa a identificação da instituição que motivou este texto porque suponho que está longe de se tratar de um caso particular.
Helena Damião
Consultora do CFIAP
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