segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

MITOS EDUCATIVOS




Vitorino Magalhães Godinho, Ministro da Educação e Cultura, por poucos meses, em plena Revolução de Abril (de 18 de Julho de 1974 a 29 de Novembro de 1974) detém-se, de modo lúcido e muito perspicaz, em vários mitos educativos da actualidade: a "criatividade natural da criança", a "eficácia dos meios informáticos, por si mesmos", "a escola activa, o aluno activo, a aprendizagem activa" (no sentido físico, interventivo, não no sentido intelectual), "a perversidade da exposição ou de qualquer explicação do professor" que implicará desatenção automática do aluno, "a autonomia na aprendizagem" (leia-se, dispensa do ensino do professor, o "afastamento da memorização" por, supostamente, impedir a compreensão.

"... tende a enraizar-se a ideia de que o grande progresso na actividade criativa virá de cada aluno dispor de computador, e de as sessões (não ousamos dizer: de aprendizagem, nem sequer de trabalho) se desenrolarem em diálogo entre os alunos e estes e o professor através do computador. Julga-se que assim teremos uma escola activa. Nada mais errado (…) os [alunos], para se desenvolverem, têm de agir em meio social e com a realidade física da presença dos outros. Insistamos neste ponto: estar frente a frente com os colegas e o mestre (…) é completamente diferente de lhes falarmos ao telefone ou pela Internet. E se pela Internet se pode aprender muito, nada substitui o contacto com (…) as pessoas; o excesso de uso do ecrã cria o artifício da "realidade virtual" e a reticência a mover-se no mundo real (…). O fascínio do ambiente virtual e o receio do meio físico estão a tornar-se doentios (...) não se está afeito a lidar com a presença corpórea dos demais (as expressões do rosto, os gestos das mãos...).

No Secundário e até no Básico instalou-se o mito da criatividade. Acha-se que a débil atenção dos alunos não suporta a exposição feita pelo professor, e que aliás não estão na escola para aprender mas sim para realizarem as suas capacidades criativas. Dispensou-se a memorização da tabuada ou das regras da gramática, como das datas mais importantes da história de Portugal. E de modo geral receia-se que recorrer à memória afecte os frágeis cérebros infantis ou juvenis. Ora memorizar não é acto mecânico e resposta cega a uma dificuldade; é acto de inteligência, requer arte no seu manejo, selecção do que se memoriza; um software (mental) bem organizado é que permite um trabalho intelectual eficaz. Não se confunda com a prática antiga de aprender de cor numerosos conhecimentos para depois os debitar a fim de mostrar que se sabe."
Helena Damião
Consultora do CFIAP

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