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quinta-feira, 6 de novembro de 2008
PRESERVAR O ENTUSIASMO DOS PROFESSORES
Margarida Miranda, professora do Instituto de Estudos Clássicos da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra tem-se dedicado ao estudo da pedagogia dos Jesuítas e publicou há pouco tempo a tradução que fez da Ratio Studiorum, que é a primeira tradução moderna em Portugal de tal obra.
Lembrou ela, em sessão pública, que teve lugar na passada terça-feira, na livraria Minerva, o especial cuidado com que no século XVI (sim, no século XVI!), se determinou, no âmbito desta pedagogia que os professores deveriam ser tratados para que pudessem ensinar bem.
Depois de lermos as recomendações que se seguem, constantes das versões de 1586 e 1599 da Ratio, percebemos que alguns conhecimentos de pedagogia poderiam ajudar a decidir as políticas e medidas educativas.
Obrigada, Margarida, pela partilha desse conhecimento.
Ratio Studiorum de 1586/B
Preservar a boa disposição dos professores
“Nada deve ser mais importante nem mais desejável (…) do que preservar a boa disposição dos professores (…). É nisso que reside o maior segredo do bom funcionamento das escolas (…).”
“Com amargura de espírito, os professores não poderão prestar um bom serviço, nem responder convenientemente às [suas] obrigações.”
Recomenda-se a todos os professores um dia de repouso semanal: “A solicitude por parte dos superiores anima muito os súbditos e reconforta-os no trabalho.”
“Quando um professor desempenha o seu ministério com zelo e diligência, não seja esse o pretexto para o sobrecarregar ainda mais e o manter por mais tempo naquele encargo. De outro modo os professores começarão a desempenhar os seus deveres com mais indiferença e negligência, para que não lhes suceda o mesmo.”
Incentivar e valorizar a sua produção literária: porque “a honra eleva as artes.”
“Em meses alternados, pelo menos, o reitor deverá chamar os professores (…) e perguntar-lhes-á, com benevolência, se lhes falta alguma coisa, se algo os impede de avançar nos estudos e outras coisas do género. Isto se aplique não só com todos os professores em geral, nas reuniões habituais, mas também com cada um em particular, a fim de que o reitor possa dar-lhes mais livremente sinais da sua benevolência, e eles próprios possam confessar as suas necessidades, com maior liberdade e confiança. Todas estas coisas concorrem grandemente para o amor e a união dos mestres com o seu superior. Além disso, o superior tem assim possibilidade de fazer com maior proveito algum reparo aos professores, se disso houver necessidade.”
Ratio Studiorum (1599)
"I. 22. Para as letras, preparem-se professores de excelênciaPara conservar (…) um bom nível de conhecimento de letras e de humanidades, e para assegurar como que uma escola de mestres, o provincial deverá garantir a existência de pelo menos dois ou três indivíduos que se distingam notoriamente em matéria de letras e de eloquência. Para que assim seja, alguns dos que revelarem maior aptidão ou inclinação para estes estudos serão designados pelo provincial para se dedicarem imediatamente àquelas matérias – desde que já possuam, nas restantes disciplinas, uma formação que se considere adequada. Com o seu trabalho e dedicação, poder-se-á manter e perpetuar como que uma espécie de viveiro para uma estirpe de bons professores.
II. 20. Manter o entusiasmo dos professoresO reitor terá o cuidado de estimular o entusiasmo dos professores com diligência e com religiosa afeição. Evite que eles sejam demasiado sobrecarregados pelos trabalhos domésticos."
Nota: Os sublinhados são de Margarida Miranda.
Referências:
- Ratio Studiorum da Companhia de Jesus (1599). Regime escolar e curriculum de estudos. Edição bilingue Latim-Português. Introdução, versão e notas por Margarida Miranda. Ratio Studiorum, um modelo pedagógico por José Manuel Martins Lopes S. J., Faculdade de Filosofia de Braga – Universidade Católica Portuguesa, Província Portuguesa da Companhia de Jesus, Edições Alcalá, 2008, 482 pp.
- “A Ratio Studiorum e os Estudos Humanísticos II: A defesa dos professores de Humanidades” Boletim de Estudos Clássicos 37 (2003) 105-115.
Helena Damião
Consultora do CFIAP
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