quarta-feira, 10 de março de 2010

O PODER DO CONHECIMENTO


A propósito do arranque hoje da feira de emprego para jovens Futurália, a cuja comissão consultiva preside, o ex-ministro da Educação Roberto Carneiro falou sobre o que está bem e mal na formação dos estudantes.

Um estudo canadiano mostra que os alunos com resultados fracos aos 15 anos dificilmente recuperam. É preciso promover mais cedo o sucesso?

Quanto mais precocemente for detectado o risco e combatidas as suas causas, mais eficazes são as medidas de promoção do sucesso educativo e profissional.

O Governo está a traçar metas de aprendizagem, com os conhecimentos mínimos a alcançar em cada ano. Será benéfico?

Tudo o que signifique evidenciar resultados expectáveis de aprendizagem para cada ciclo educativo ajuda a tornar a avaliação mais objectiva e à melhoria do sistema.

O excesso de disciplinas no básico é um obstáculo à meta de 12 anos de escola obrigatória?

Os alunos não aprendem só ensinados, a escola deve estimular outras formas de aprendizagem informal e não formal, individualmente ou em grupo, com e sem tecnologias de suporte.

Como avalia a aposta nos cursos profissionais do secundário?

Atingimos já o objectivo de ter 50% dos matriculados no ensino secundário em vias profissionais ou profissionalizantes. Isso é um dado positivo e alinha-nos com o resto da Europa desenvolvida. Resta saber se a qualidade das novas ofertas profissionais, designadamente em estabelecimentos de ensino públicos, é reconhecida pelo mercado de trabalho. Ainda é cedo.

Concorda com a ideia de que é preciso reconverter todo o nosso sistema de ensino tendo em vista a busca precoce das "vocações"?

Concordo, desde que essa identificação precoce de vocações não signifique o retorno a formas de discriminação social e cultural em que a escola exclui ou segmenta.

Está há vários anos ligado à Futurália, feira de emprego para jovens. Qual é a motivação?

O reconhecimento de que a informação sobre cursos, empregos e vias de qualificação não é perfeita, originando graves distorções nas opções escolares e vocacionais. E a importância capital que atribuo à qualificação pessoal numa sociedade cada vez mais cognocrática, isto é, onde o verdadeiro poder está sediado no conhecimento e na capacidade de com ele criar valor.

Estas iniciativas, a par das promovidas pelas universidades, ajudam a orientar os jovens?

Sim. A transição do secundário para o superior é frequentemente traumática e nem sempre o jovem encontra as ajudas para realizar uma opção consciente e informada.

Portugal tem um atraso histórico ao nível das qualificações. Mas há desemprego de licenciados...

Vivemos a euforia da expansão desregrada do ensino superior ditada sobretudo pelas conveniências da oferta. É tempo de rever caminhos e solicitar às instituições um maior esforço para focalizar a oferta em análises do mercado de trabalho, actual e futuro. Quanto ao resto, não podemos abrandar o esforço de qualificação avançada das novas gerações. Estamos ainda muito longe dos padrões da maioria dos nossos parceiros europeus
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