quarta-feira, 10 de março de 2010

BULLYING NAS ESCOLAS DE ÁGUEDA



A crer na seriedade dos estudos recentes feitos no nosso país, nomeadamente no distrito de Bragança, todas as escolas têm bullying. E se todas as escolas têm bullying, nas escolas de Águeda também existe.

Mesmo que nos pareça exagerada esta generalização, bastará pensarmos que as estatísticas também nos dizem que a maior parte das vítimas não pede ajuda. Ou seja, temos que aceitar que, mesmo sem conhecer o fenómeno, ele pode estar realmente presente.
É evidente que muitas pessoas desconheciam o bullying até ao momento em que, qual vedeta, se apresenta na televisão por força do suicídio de um jovem de 12 anos.


A palavra bullying diz respeito a todas as formas de agressão, repetidas e intencionais, sem razões aparentes e que, resultando de uma relação desigual de poder, causam angústia, vergonha e mesmo dor. Dor que pode revelar-se insuportável e conduzir a vítima a actos desesperados, ou mesmo ao suicídio.
As agressões podem ser verbais, frequentemente confundidas com brincadeiras; podem ser corporais e morais, assumindo, não raras vezes, as características de guerra silenciosa, que vai destruindo, devagarinho, a auto-estima e impondo estados depressivos ao alvo das ditas brincadeiras, arruinando-lhe a vida. Pode começar muito cedo, ainda no jardim de infância, no entanto aceita-se que alcance o seu pico na adolescência.
Embora este discurso desperte o reconhecimento de que as escolas precisam de actuar na defesa das vítimas, não esqueçamos que os agressores convivem no mesmo meio. Ou seja, nas escolas estão as vítimas e os agressores.
Os peritos vão alertando para a falta de preparação das escolas para lidar com estes fenómenos, o que se tornou evidente nas justificações que foram dadas quando ouvidos os diferentes intervenientes no processo deste jovem de Bragança, de 12 anos, que se suicidou, – ninguém sabe explicar como aconteceu, ou, pior ainda, ninguém sabia o que estava a acontecer.
Sinalizado um agressor numa escola, a medida máxima que pode ser aplicada passa pela sua suspensão. Se pensarmos que os agressores são dominantemente oriundos de ambientes familiares pouco estruturados, que perceberam que podem ter poder sobre os outros colegas, a suspensão funciona, pois, como reforço do estatuto social.

O Ministério da Educação que perdoe a personificação, mas, que haja olhos que leiam e ouvidos que ouçam: é preciso dotar as escolas de meios, humanos e normativos, para se proceder, sobretudo, à prevenção destes factos.
Os funcionários das escolas, que são quem acompanha os alunos mais de perto nos espaços extra-aula, onde ocorrem nomeadamente as agressões mais violentas, precisam de ser suficientes e de estar atentos, para sinalizar as situações.
A diminuição acentuada destes profissionais e a ligação que passaram a ter com as Câmaras Municipais - e até com os Centros de Emprego - tem descaracterizado a classe que, como se diz, já não veste a camisola.
Eles são frequentemente os confidentes dos alunos, partilhando intimidades inconfessáveis aos professores. Os professores, por sua vez, porque o bullying entra, desavergonhadamente, na sala de aula, precisam de ver reforçada a sua autoridade para actuar em conformidade.

Os pais e encarregados de educação devem estar atentos a comportamentos e sinais denunciadores de mal-estar e podem recorrer a linhas telefónicas de apoio, dirigidas a professores, alunos e famílias, e a sítios na internet, nomeadamente o Portal Bullying, Centro de Ajuda Online, para além de se dirigirem à escola, dando conhecimento das suas suspeitas.
Um pouco ironicamente, como não podia deixar de acontecer na era das novas tecnologias, existem variações do fenómeno.
O cyberbullying – intimidação e violência psicológica pela internet - tem aumentado, sobretudo pela adesão dos jovens às redes sociais e blogs, assim como a perseguição e assédio via telemóvel.
É importante a educação sobre como usar adequadamente as tecnologias de informação e comunicação, o encorajar os jovens a falarem sobre os problemas, fazendo-lhes sentir que pedir ajuda não é sinal de fraqueza e, particularmente, não ignorar uma situação que pode ter desfechos tão dramáticos como o que conhecemos na passada semana, da criança que se lançou ao rio Tua, que podia ser o rio Águeda, numa escola de Mirandela, que podia ser no concelho de Águeda.

A directora do CFIAP

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