domingo, 7 de junho de 2009

O TRABALHO DENTRO DA SALA DE AULA


Na entrevista referida em texto anterior, a senhora presidente do Conselho Nacional da Educação afirmou que é preciso “mudar o paradigma do trabalho dentro da sala aula”.

Para se fazer uma tal afirmação seria preciso, antes de mais, conhecer-se em pormenor esse mesmo paradigma.

Ora, tanto quanto sei, não dispomos desse conhecimento: haverá estudos de observação dispersos, filiados em múltiplas teorizações, que recorreram a estratégias e instrumentos de investigação diversos, e que incidem neste ou naquele ano, ciclo ou nível de escolaridade, nesta ou naquela área curricular ou aspecto de ensino e/ou de aprendizagem, mas daí a termos uma ideia completa e consistente do paradigma ou paradigmas de trabalho em sala de aula (pois nem sequer sabemos se há um ou vários…) vai uma grande distância.

De seguida, seria fundamental apontar o paradigma alternativo, o paradigma novo, que, com fundamento filosófico e científico, se nos afigure perfeito e que, portanto, se justificaria colocar em prática. Mas, dispomos nós de um novo modo de pensar e agir, susceptível de orientar o trabalho dentro da sala de aula? Tanto quanto sei, não existe: cada teorização, cada autor avança convictamente a sua proposta, não se podendo, porém, dizer que uma é, em absoluto, mais válida do que a outra.

De notar que uma "mudança paradigmática", se atendermos ao significado desta expressão, tem necessariamente de ser profunda, justificando-se, neste ponto, perguntar: o paradigma actual (a existir, claro) é completamente inadequado, de modo que urja a respectiva substituição?

Em vez do mais que habitual apelo à mudança-pela-mudança, não seria preferível que um organismo como o Conselho Nacional da Educação se empenhasse na análise alargada do ensino que tem, de facto, lugar em sala de aula, num estudo conduzido por princípios de objectividade e rigor, de modo que, em função dos dados obtidos, se pudesse identificar o que está certo (devendo ser recomendado) e errado (devendo ser mudado)?

Helena Damião
Consultora do CFIAP


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