A ideia tradicional de manual escolar é a de um livro com conteúdos disciplinares, pensado e organizado em termos pedagógico-didácticos para que os alunos acompanhem as aulas e estudem autonomamente. Porém, esta ideia aplica-se cada vez menos aos manuais escolares que se publicam entre nós, pois a cada “área curricular disciplinar” (expressão incontornável na nova terminologia do sistema educativo) não corresponde apenas um livro: são vários os documentos destinados aos alunos que as editoras acomodam numa pasta ou num pacote.
As pastas são coloridas, têm nomes chamativos e, em geral, não cabem nas mochilas de tamanho compatível com a robustez dos alunos mais pequenos; os pacotes são de plástico transparente, não tão atractivos à vista, mas ocupam menos espaço.Vejamos o que contêm: Detenho-me nas pastas de Língua Portuguesa e de Matemática para o primeiro ano do primeiro ciclo do Ensino Básico, publicado por uma determinada editora. Cada pasta contém quatro documentos: o livro principal, o livro de fichas de trabalho, o livro de fichas de avaliação, um pequeno caderno de palavras/números (na capa esclarece-se que é “oferta aos alunos"). Para a Matemática há, ainda, folhas soltas com autocolantes, figuras geométricas para recortar e montar, etc. Falta, ainda, a pasta de Estudo do Meio… No total são entre dez a doze documentos nas mãos de uma criança que entra na escola.
Detenho-me, de seguida, no pacote de Língua Portuguesa para o primeiro ano do segundo ciclo do Ensino Básico, publicado por outra editora: é composto pelo livro principal, um caderno de actividades, uma minigramática, um caderno de sinónimos e um cd. Não mudando de ano de escolaridade, passo para o pacote de Matemática de uma terceira editora: três volumes compõem o livro principal a que se acrescenta o caderno de actividades. Não encontro o cd, mas vejo referência a um sítio na internet “que contém um conjunto de materiais auxiliares”. Faltam os pacotes para todas as outras “áreas curriculares disciplinares”, que, como o leitor sabe, são muitas. Como se percebe, neste ciclo o número de documentos vai muito além da dúzia.
Poderia passar para o terceiro ciclo, para um qualquer ano lectivo ou “área curricular disciplinar” não referidas neste texto, poderia contabilizar com mais detalhe os documentos produzidos por uma quarta, uma quinta, uma sexta editora, que o panorama não variava muito do acima descrito. Assim sendo, parece importante perguntar: esta proliferação de documentos em que se transformaram os manuais escolares é adequada à aprendizagem ou não? Permite aos alunos ter uma visão de conjunto dos conhecimentos que deverão aprender ou contribui para a sua dispersão no estudo?
Helena Damião
Consultora do CFIAP
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