sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

A UNIVERSIDADE PREOCUPADA COM A ESCRITA DOS ALUNOS







Vale a pena ler o artigo L’orthographe préoccupe les universitésescrito por Paul de Coustin e publicado no jornal Le Figaro (on line), do passado dia 26 de Dezembro.

Nele se aborda um problema gravíssimo e nada novo: a degradação das competências de escrita dos estudantes que chegam ao ensino superior.

Muitos professores reconhecem-no e falam dele, começando também a receber a atenção de investigadores mas quando se trata de tomar medidas alguma coisa falha e, em geral, nada se faz.

Talvez se compreenda esta espécie de inactividade por parte de escolas superiores e universidades se pensarmos no seguinte:

- Caberá a tais instituições resolver o problema? A resposta mais imediata é: não, não é essa a sua tarefa, a aprendizagem da escrita tem de ser feita ao longo da escolaridade básica.

- Mas, por razões diversas, essa aprendizagem tem falhas e, portanto, as ditas instituições ficam com o problema em mãos. Então o bom-senso aconselharia que recusassem os estudantes que não dominam suficientemente a escrita, pois sem ela é impossível avançar em qualquer área de estudos superiores. Porém, se o fizessem muitos cursos fechariam com as respectivas consequências para a manutenção dos departamentos e do corpo docente.

Neste cenário dilemático, caso os recursos o permitam, algumas instituições têm tentado fazer face ao problema, criando unidades/módulos/centros para aprendizagem da escrita.

Mas o ensino de jovens adultos é mais exigente do que o ensino de crianças; requer técnicos especializados, persistência por parte dos estudantes e continuidade didáctica, nada que fique resolvido com algumas sessões intensivas no ínicio de um curso. Acontece que estas condições nem sempre são devidamente ponderadas por parte de quem toma, ainda que de boa mente, decisões.

Depois de os Estados Unidos e do Brasil - pode haver outros países que desconhecemos - terem avançado em termos de diagnóstico e de remediação, eis a Europa a seguir-lhe os passos. Não discordarmos, sendo essas as condições, que apontam para uma situação de transição. Mas já discordamos se as instituições de ensino superior fizerem desta aprendizagem uma das suas missões.

O essencial tem de ser debatido: é nos primeiros anos de escolaridade que os alunos devem aprender a escrever. Uma vez detectadas falhas graves, como aquelas que começam a vir a debate, são os sistemas educativos que precisam de rever as suas opções e procedimentos.

Helena Damião e Isaltina Martins


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